Lobisomem (2025): Reinventa a história, esquece o lobisomem.

Cena Lobisomem 2025

Em 1941, a consagrada franquia dos Monstros da Universal mostrava forças ainda 10 anos após o lançamento de Drácula com o lançamento de O Lobisomem (The Wolf Man), dirigido por George Waggner. O filme apresenta a história de Larry Talbot, interpretado por Lon Chaney Jr., que retorna à sua cidade natal e, após ser mordido por um lobo, é amaldiçoado a se transformar nessa criatura nas noites de lua cheia.

Esta obra não apenas consolidou a figura do lobisomem no imaginário popular, mas também explorou temas como a dualidade humana e a luta interna entre o bem e o mal. Larry Talbot é um personagem atormentado, preso entre sua natureza humana e a fera incontrolável dentro de si, em um filme que discute assuntos psicológicos de maneira bem visual.

The Wolf Man 1941

Lon Chaney Jr. como Lobisomem em Lobisomem (1941)

Décadas depois, neste ano de 2025, a Blumhouse reviveu essa lenda com uma nova perspectiva no filme Lobisomem (Wolf Man), dirigido por Leigh Whannell. Nesta versão, acompanhamos Blake, um homem que, ao tentar proteger sua família de uma ameaça desconhecida em uma região isolada, acaba sendo infectado e gradualmente se transforma na própria criatura que temia.

Mas, além da clássica narrativa de horror corporal, o novo Lobisomem trabalha em cima da metáfora para as relações decadentes de um casamento em colapso. A história usa a licantropia como símbolo da violência emocional e psicológica que se manifesta quando um relacionamento chega ao ponto de ruptura, onde a perda de controle e a destruição mútua parecem inevitáveis.

Quando veio a calhar uma reimaginação moderna dessa história, teoricamente, não havia ninguém melhor que Leigh Whannell. Diretor que também reviveu e modernizou O Homem Invisível de H.G. Whells em 2020, trazendo um filme que transformou a clássica história da ficção científica em uma metáfora bem atual sobre abuso psicológico.

Em vez de focar apenas na invisibilidade como um conceito científico, Whannell a utilizou para ilustrar o terror do gaslighting e do controle coercitivo, mostrando como um agressor pode tornar sua vítima refém, mesmo sem estar fisicamente presente. O diretor idealiza muito bem esse mundo na ressignificação da história, logo, com o anúncio de que o mesmo iria trabalhar no filme do Lobisomem, fiquei muito empolgado. 

O maior problema do filme está na sua progressão rítmica. A obra oscila entre um drama psicológico que aparenta ser denso e sequências de horror previsíveis, mas nunca encontra equilíbrio entre os dois.

O drama entre o casal se arrasta bastante, nunca é desenvolvido propriamente, é envolto de potencialidades expositivas, quase como se o filme estivesse tentando jogar o máximo que der em uma cena pra você lembrar do que ele se trata, porque depois, só vão tocar nesse assunto daqui a 20 minutos. E não é nem trazendo nuances, reflexões e tensões novas, é inteiramente reforçando a mesma ideia. 

Ademais, acrescenta-se essa alternância com o horror. O diretor filma muito bem sob perspectivas, enquanto em o Homem Invisível vimos geralmente aquela câmera estática flertando com a possibilidade de ter algo ali (um conceito genérico, mas que funciona muito bem a sua maneira), nesse, ele toma um passo à frente e cria uma dinâmica bastante interessante da câmera onde ela não apenas observa, mas se posiciona dentro daquele mundo particular dos personagens.

Principalmente do lobisomem, mostrando sua visão de mundo hipersensorial e destoante do resto. Esse recurso funciona melhor na relação do protagonista com sua filha.

Cena Lobisomem 2025

Desde o início, há esse artifício emocional dela "ler" a mente do pai—um jogo criado por ele para estreitar os laços entre os dois e superar a distância emocional. Porém, quando a transformação progride e ele começa a perder sua humanidade, essa dinâmica toma um rumo mais profundo, e o que antes era um gesto de carinho se transforma no único método de comunicação entre eles.

O filme acerta ao explorar essa ruptura sensorial como um reflexo da perda de conexão entre pai e filha, mas, infelizmente, essa nuance dramática não é bem aproveitada ao longo da trama, sendo apenas mais uma ideia boa desperdiçada em meio à execução irregular.

No final, é uma obra que grita como uma ideia inacabada. É perceptível que o diretor tem noção do simbolismo por trás do mito do lobisomem e até propõe um ângulo interessante ao conectá-lo à deterioração de um relacionamento, mas nunca consegue transformar essa ideia em uma narrativa consistente. É rodado de paralelos expositivos que, ao menos para mim, não condiz com a formalização do diretor que trabalha sim, muito bem com metáforas e artifícios visuais.

Lobisomem (2025)

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