Review | Defensores – 1° Temporada (2017)

Uma boa reunião, mas cansativa

Os Defensores veio a calhar como o grande evento da Marvel na Netflix. Era o momento de reunir quatro heróis estabelecidos, Demolidor, Jessica Jones, Luke Cage e Punho de Ferro, e amarrar os fios soltos deixados por suas séries individuais. A promessa era empolgante: uma espécie de “Vingadores urbanos” que traria o melhor de cada mundo para um confronto direto com a Mão. Na prática, no entanto, a execução deixou a desejar.

Ritmo travado, começo lento

A série tem apenas oito episódios, menor que o padrão (13 episódios), o que teoricamente deveria ajudar no foco e no ritmo. Mas os três primeiros episódios são surpreendentemente lentos. Ao invés de uma preparação crescente, o que temos é uma exposição arrastada, que se alonga demais para chegar no ponto.

A estrutura opta por seguir cada herói individualmente em seus próprios núcleos e conflitos, o que até faz sentido no papel. O problema é que isso atrasa demais a colisão dos mundos. Só no quarto episódio é que a equipe de fato se encontra, e até lá, tem vários momentos podem ser exercícios de paciência.

Essa demora cobra seu preço. Quando os personagens finalmente se unem, o tempo para explorar a dinâmica entre eles é curto. E esse é um dos maiores desperdícios da série, já que o verdadeiro charme de Os Defensores está justamente nas interações entre esses heróis.

Química entre os personagens

Apesar da construção lenta, quando a equipe finalmente se junta, funciona. A química entre os personagens funciona. Jessica e Matt, por exemplo, são ótimos juntos, ele mais contido, ela mais debochada. Luke e Danny também oferecem uma dinâmica interessante, ainda que o Punho de Ferro continue sendo o elo mais fraco do grupo.

A série parece consciente disso e tenta reformular um pouco Danny Rand, dando-lhe um papel mais vulnerável e até autoconsciente. Não é o suficiente para torná-lo um personagem interessante, mas ao menos ele não atrapalha tanto quanto na sua série solo.

Jessica Jones continua sendo o destaque em termos de presença e timing cômico. Ela é, sem esforço, a mais carismática do grupo. E Matt Murdock, ainda lidando com os eventos de sua segunda temporada, carrega uma tensão que eleva as cenas dramáticas.

Mas o grupo como um todo raramente parece realmente unido. Há mais momentos de brigas e discordâncias do que de cooperação verdadeira. E isso talvez seja um reflexo da dificuldade do roteiro em balancear tantas personalidades e dar espaço igual para todos.

Vilões e motivações

Sigourney Weaver é uma adição de peso ao elenco como Alexandra, uma das líderes da Mão. Mas, infelizmente, sua personagem nunca ganha profundidade real. Há tentativas de dar a ela camadas, o medo da morte, a manipulação sutil, a relação quase maternal com Elektra — mas tudo parece apressado e raso.

A própria Mão, que já vinha sendo usada em excesso nas temporadas anteriores, se desgasta ainda mais aqui. Suas motivações continuam vagas, seus planos são confusos, e sua ameaça nunca se concretiza de forma eficaz. São vilões que falam muito, mas entregam pouco.

O retorno de Elektra como a “Arma Negra” poderia ter sido impactante, mas também sofre com desenvolvimento superficial. O conflito dela com Matt tenta resgatar a carga emocional da segunda temporada de Demolidor, mas o tempo limitado da minissérie impede qualquer aprofundamento satisfatório.

Coadjuvantes desperdiçados

Outro problema está na quantidade de personagens secundários que são trazidos de volta. Claire Temple, Colleen Wing, Misty Knight, Karen Page, Foggy Nelson, Malcolm... todos aparecem, mas poucos têm algo realmente relevante para fazer.

Muitos desses personagens foram importantes em suas séries originais, mas aqui acabam reduzidos a pequenas participações ou funções meramente expositivas. A sensação é de que a série quis agradar todos os fãs, mas não soube o que fazer com todo mundo.

Claire, por exemplo, vinha sendo o fio condutor do universo Netflix Marvel. Aqui, mal tem tempo de tela. Colleen até ganha alguma ação, mas poderia ter sido mais útil em outras frentes. E personagens como Foggy e Karen parecem estar ali apenas por obrigação.

Estética e direção

Visualmente, Os Defensores tenta criar uma identidade própria, utilizando paletas de cores distintas para cada herói e depois mesclando essas estéticas conforme as histórias se cruzam. A ideia é interessante e funciona em alguns momentos, mas não é suficiente para esconder a falta de impacto de algumas cenas de ação.

As coreografias variam bastante. Algumas lutas têm boa construção (como o embate no escritório da Midland Circle), mas outras parecem genéricas e com pouca energia. Isso é especialmente decepcionante vindo de uma série como Demolidor.

A direção tenta dar dinamismo, mas muitas vezes o roteiro não ajuda. Há diálogos longos demais, com explicações repetitivas, e cenas que poderiam ser mais curtas. Em uma série tão compacta, cada minuto deveria contar. E isso nem sempre acontece aqui.

Conclusão

Os Defensores não é uma má série. Tem bons personagens e momentos interessantes. Mas sofre com o peso da expectativa, com a falta de foco e com a dificuldade de equilibrar seus personagens e subtramas.

Com mais ousadia e ritmo, poderia ter sido um marco. Do jeito que ficou, é apenas funcional. Uma série que entrega o básico, mas não aproveita todo o potencial que tinha em mãos.

No fim, vale a pena para quem acompanhou as séries anteriores, mas está longe de ser a reunião épica que prometia.


Os Defensores (2017)


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