A Salvação de Super Sentai

Produções de super sentai carregam uma longa tradição dentro do gênero tokusatsu, há 50 anos seguindo uma fórmula que parece ser imbatível, só que nem sempre foi tão imbatível assim. A franquia estava prestes a sofrer cancelamento nos anos 1990 devido a extrema baixa popularidade e vendas de suas temporadas de 1989 e 1990, e nesse sentido, surgiu Jetman, como uma última tentativa de salvar tudo isso.
A primeira leva de episódios segue o caminho mais genérico dentro da franquia, em meio a aventuras simples com um monstro igualmente simplório para enfrentar no final. Porém, após esse início que dura até por volta do episódio 12, há uma mudança de tom significativa, que não necessariamente perde a leveza, mas abraça melhor o lado tridimensional do ser humano, começando a entregar episódios mais criativos, reflexivos, e, acima de tudo, divertidos.
O ritmo narrativo se torna mais interessante, as tramas deixam de se apoiar apenas no formato “vilão da semana” e passam a se arriscar em temáticas que enriquecem a experiência. Se tornando mais eficiente.
A Força dos Personagens
O maior destaque são os personagens. É interessante notar que a maioria deles foi escolhida de forma inesperada para assumir o papel de heróis. Com exceção de Ryu (Red Hawk), nenhum tinha preparo ou intenção de viver algo desse tipo. São indivíduos comuns, arrastados pelas circunstâncias, que se veem obrigados a lidar com responsabilidades muito maiores do que poderiam imaginar, resultado de estarem simplesmente no momento e lugar em que tudo aconteceu. Então a partir daí, vamos acompanhado esses quatro seres humanos tentando ser heróis.
Cada um possui características próprias que funcionam como contrapontos entre si, quase como se fossem cinco facetas de uma mesma personalidade. Ryu é o líder esforçado; Kaori, a patricinha; Raita, o medroso; Ako, a adolescente despreocupada; e Gai, o bad boy que tenta passar a imagem de indiferença, mesmo que não corresponda à realidade. A força da série nasce justamente dessas relações e desventuras.
Em alguns momentos, a trama mergulha em dramas mais densos que exploram a psique dos heróis. Evidentemente, por se tratar de uma produção voltada ao público infantil, não há espaço para um melodrama sofisticado, mas ainda assim a série consegue apresentar subtramas e situações que levam até mesmo o espectador mais maduro à reflexão. Entre os temas abordados estão estresse pós-traumático, rejeição, luto e mistérios que fogem do estigma de algo meramente “infantilizado”.
No geral, Jetman foi tão popular que quase se tornou a primeira série a ser adaptada para Power Rangers no ocidente. Mas por motivos externos, acabou passando o bastão para temporada seguinte, Zyuranger.
Irregularidades e Legado
Apesar de seus méritos, a série não está livre de falhas. Assim como o início demora a engrenar, a segunda metade sofre com uma certa irregularidade, marcada por episódios com tramas que surgem e desaparecem do nada. Muitas ideias promissoras da primeira metade acabam se tornando obsoletas ou mal aproveitadas mais adiante. Um exemplo claro é o triângulo amoroso entre Red Hawk, Black Condor e White Swan. No início, essa trama trazia uma camada extra às relações do grupo, mas acabou sendo abandonada de maneira esquecível, sem qualquer peso no desfecho.
O final também deixa a desejar. Embora tente transmitir uma mensagem do tipo “uma vez herói, sempre herói”, especialmente ao criar um paralelo interessante entre o desenvolvimento de um personagem em comparação ao seu ponto de partida, faltou polimento no roteiro para que a ideia ganhasse a força necessária. É um desfecho dicotomicamente tranquilo, mas poderia ter sido melhor.
Ainda assim, não se pode negar o brilho dos últimos dez episódios. Eles superam os tropeços anteriores e resgatam toda a magia que fez a série memorável: seus personagens. As subtramas retornam com vigor, a tridimensionalidade (de quase todos) volta a ser explorada, e a narrativa entrega momentos belos, empolgantes e cheios de energia, que fazem o espectador querer assistir a um episódio atrás do outro.
Ao terminar, fica a sensação de que sentirei muita falta desses personagens. Pois é uma série leve, mas ao mesmo tempo cheia de nuances, que conseguiu unir simplicidade e profundidade em doses muito bem equilibradas. Não é perfeita, e está longe de ser isenta de falhas, mas tem uma marca calorosamente humana.

Choujin Sentai Jetman (1991)
Título original: Chōjin Sentai Jettoman
Showrunner: Toshiki Inoue
Toei Animation
Sinopse: Um grupo de cinco pessoas recebe, de maneira inesperada, o poder das Birdonic Waves, energia criada para formar uma equipe especial de combate contra a organização vilã Vyram, que ameaça dominar a Terra após destruir a base espacial onde o projeto estava sendo desenvolvido.

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